top of page

Quando a Guerra Invade o Paraíso

"A Alma Sensível Diante das Guerras "

Era um lugar belo demais para ser tocado pela dor. O mar se abria em tons de verde translúcido, como se as águas guardassem segredos antigos sobre o início da criação. Um barco de madeira artesanal repousava à beira, pronto para levar almas rumo a ilhas de contemplação, não precisava remos nem velas, somente uma comunhão de pensamento.

Mas até os paraísos são vulneráveis quando a consciência humana adormece.

A guerra chegou sem aviso. E com ela, o peso denso da morte, a interrupção abrupta do belo, o som do medo atravessando o céu como lâmina.Uma cabeça tombou. O centro da testa atingido.E junto ao sangue que se espalhou na água, vieram as perguntas que muitos evitam: Como chegamos aqui? Quem somos nós diante da dor do outro? De onde parte o primeiro disparo — da mão ou da mente?

A alma, que até então se preparava para o passeio, hesitou. Algo dentro dela sabia: não era hora de seguir com os olhos vendados. Não se segue quando a direção é contrária ao que é sagrado.Não se navega quando o mar é manchado por atos inconscientes.

E ali, no cenário onde o belo colidiu com o brutal, a alma se viu diante da sua própria encruzilhada: seguir ou parar? ignorar ou sentir? dormir ou despertar?

As guerras que sangram o mundo não nascem dos campos de batalha. Elas brotam na indiferença cotidiana. Na decisão de calar quando se deveria amar. Na crença de que é preciso dominar para sobreviver. Na ilusão de que o outro não é espelho.

O sonho era claro. Era um espelho onírico da humanidade:a pressa, a distração, o automatismo diante da morte, a beleza esquecida, a sensibilidade ignorada.

Mas quem sonha, vê. E quem vê, desperta.

Há quem chore com a alma silenciosa diante dessas visões.E há quem sinta a tristeza como um sussurro da própria essência dizendo:“Não é por aqui.”Porque a alma sabe.Ela sempre soube.Que por trás da brutalidade, existe um clamor ancestral por cura.

A cura só virá quando compreendermos que cada gesto, cada escolha, cada silêncio tem o poder de ser ou guerra, ou ponte .

Que o paraíso só é real quando há consciência. E que o amor verdadeiro começa com a decisão de não ferir — nem com palavras, nem com omissões, nem com pensamentos.

Não precisamos de fardas para empunhar armas. Algumas estão guardadas nos bolsos da língua: são sarcasmos, ironias, verdades jogadas como pedras. Outras cabem nos dedos: cliques impacientes que disparam julgamentos em redes vazias de afeto. Essas trincheiras silenciosas cavadas no cotidiano só se desfazem quando alguém se atreve a levantar a bandeira da empatia.


A violência de hoje é o eco de ontem que ficou sem voz. Por isso, quando uma alma sensível treme diante do sangue no mar, ela não está sendo frágil:ela está sendo ponte entre tempos, pedindo que algo finalmente seja ouvido — e curado.Cada lágrima que reconhece a dor do outro é um fio dourado costurando a ferida do coletivo.

Não basta apenas constatar a barbárie; é preciso semear beleza onde a terra foi rasgada. Beleza consciente não distrai, desperta. Ela lembra que, mesmo no caos, ainda podemos cuidar de um vaso de plantas, de um animal, entoar uma canção, atiçar a vela do silêncio. Esses pequenos gestos não evitam guerras grandes, mas desarmam as guerras miúdas que patrocinam as de fora.

A cada amanhecer, somos convidados a decidir: vou repetir o velho roteiro das culpas ou escrever um parágrafo de gentileza? Vou sustentar o medo ou respirar a coragem macia que cabe no peito? A paz que desejamos não se proclama; ela se pratica — no timbre da voz, no ritmo da escuta, na honestidade de um “sinto muito”.

Quando a alma sesível bebe o pranto do mundo, ela se torna alquimista:transmuta dor em compaixão, cansaço em lucidez, luto em serviço. Que ela não se feche na solidão do que sente;que procure tribos onde a sensibilidade é celebrada como dom, não tratada como fraqueza.

Esta partilha não é apenas sobre um sonho. É sobre o chamado. O chamado para aqueles que sentem demais, para os que hesitam antes de embarcar, para os que ainda acreditam que a beleza pode, sim, vencer o medo.

Que a alma sensivel— aquela que chora ao ver o sangue tocando o mar — não perca sua luz. Pois é dela que nascerá o novo mundo:um mundo erguido não sobre fortalezas, mas sobre pontes; não sobre vitórias vazias, mas sobre encontros verdadeiros; não sobre sanções, mas sobre canções.

E quando esse mundo chegar —talvez primeiro dentro, depois fora — o mar voltará a ser verde translúcido,e o barco artesanal seguirá sem pressa, cortando águas mansas em direção a ilhas de ternura, onde a única bandeira hasteada será a da consciência em paz. Paz e Luz! @Prosa.terapia

 
 
 

Comments


bottom of page