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Casa e Abrigo


Existem pessoas que chegam feito abrigoe a gente nem sabe que precisava tanto até se sentir ali, acolhido, inteiro, aceito sem precisar se encolher.


Não se trata apenas de amizade, nem de afinidade.

É algo mais antigo. Como se as almas, antes mesmo dos corpos,

já tivessem se reconhecido em outros tempos.

Houve um tempo em que ser com o outro era como ser em casa.

Não aquela casa de paredes e móveis, mas uma casa feita de olhares que entendem, de silêncios que confortam, de mãos estendidas mesmo quando tudo parece ruir por dentro.


Essa pessoa era isso.

A casa.

A quietude num mundo barulhento.

A certeza num tempo de incertezas.

A água no deserto.

E você, sem perceber, também era casa nela.


Ali, os corações se aninhavam, partilhavam segredos e dores, mas, sobretudo, descansavam.

Como se a vida dissesse:

“Aqui, você não precisa fingir nada. Aqui, você pode ser.”


O tempo, com sua dança imprevisível, levou os passos para lados diferentes.

As palavras diminuíram, os dias se encheram de outras prioridades, e a presença física foi cedendo espaço à memória.

Mas o que foi verdadeiro, o que foi alma,

não se desfez.


Hoje, talvez haja silêncio. Talvez a vida tenha empilhado muros e desencontros.

Mas mesmo assim, lá no fundo do peito, existe ainda aquela mesma porta entreaberta, aquele canto onde o nome do outro ainda ecoa como quem diz:

“Se precisar, ainda estou aqui. Talvez de outro jeito. Mas sou.”

Porque ser casa uma vez é também ser abrigo para sempre.

Não importa quanto tempo passe, nem quantas versões de si você precise enterrar e renascer.

Existem vínculos que sobrevivem a tudo , inclusive à ausência.

E esse é o milagre das almas que se encontram:

elas não se perdem.

Apenas mudam de forma, mas continuam sendo lugar.



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