Casa e Abrigo
- Lorena Lisboa
- 13 de jul.
- 2 min de leitura
Existem pessoas que chegam feito abrigoe a gente nem sabe que precisava tanto até se sentir ali, acolhido, inteiro, aceito sem precisar se encolher.
Não se trata apenas de amizade, nem de afinidade.
É algo mais antigo. Como se as almas, antes mesmo dos corpos,
já tivessem se reconhecido em outros tempos.
Houve um tempo em que ser com o outro era como ser em casa.
Não aquela casa de paredes e móveis, mas uma casa feita de olhares que entendem, de silêncios que confortam, de mãos estendidas mesmo quando tudo parece ruir por dentro.
Essa pessoa era isso.
A casa.
A quietude num mundo barulhento.
A certeza num tempo de incertezas.
A água no deserto.
E você, sem perceber, também era casa nela.
Ali, os corações se aninhavam, partilhavam segredos e dores, mas, sobretudo, descansavam.
Como se a vida dissesse:
“Aqui, você não precisa fingir nada. Aqui, você pode ser.”
O tempo, com sua dança imprevisível, levou os passos para lados diferentes.
As palavras diminuíram, os dias se encheram de outras prioridades, e a presença física foi cedendo espaço à memória.
Mas o que foi verdadeiro, o que foi alma,
não se desfez.
Hoje, talvez haja silêncio. Talvez a vida tenha empilhado muros e desencontros.
Mas mesmo assim, lá no fundo do peito, existe ainda aquela mesma porta entreaberta, aquele canto onde o nome do outro ainda ecoa como quem diz:
“Se precisar, ainda estou aqui. Talvez de outro jeito. Mas sou.”
Porque ser casa uma vez é também ser abrigo para sempre.
Não importa quanto tempo passe, nem quantas versões de si você precise enterrar e renascer.
Existem vínculos que sobrevivem a tudo , inclusive à ausência.
E esse é o milagre das almas que se encontram:
elas não se perdem.
Apenas mudam de forma, mas continuam sendo lugar.




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